Lince-ibérico. Foto: Quercus

Boas notícias: O lince-ibérico está a regressar à região de Castelo Branco

Há quase um ano e meio que a presença deste felino se faz notar nesta zona do Interior. Já foi identificada uma fêmea nascida no centro de reprodução de Silves.

Não existem dúvidas: há evidências da presença regular de lince-ibérico no distrito de Castelo Branco, depois de 30 anos praticamente sem sinais na região, disse à Wilder Samuel Infante, coordenador do CERAS – Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens e ligado à Quercus.

“Há mais de um ano que estamos a acompanhar a presença regular desta espécie”, indicou este responsável, adiantando que neste processo trabalhado em conjunto com o Instituto Nacional de Conservação da Natureza e das Florestas.

Através de fotografias de um lince captadas na zona de Castelo Branco, as autoridades identificaram para já a presença de uma fêmea que estava dada como desaparecida: Maguilla, nascida no Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico, em Silves, em 2015, e libertada no ano seguinte no Vale de Matachel, na Extremadura espanhola.

A fêmea de lince-ibérico Maguilla, fotografada na região de Castelo Branco. Foto: Quercus

Em 2017, esta lince ficou sem a coleira com radiotransmissor que permitia o seu seguimento ao longe. E assim perderam-lhe o rasto. Agora, Maguilla voltou a ser encontrada, a cerca de 300 quilómetros do local onde tinha sido libertada na natureza.

Esta fêmea de lince “foi identificada através dos padrões da pelagem”, explicou Samuel Infante. Quer em Portugal quer em Espanha, as autoridades ligadas à conservação da espécie têm ao seu dispor os padrões de pelagem dos linces nascidos em cativeiro, o que permite que sejam reconhecidos através das imagens captadas por foto-armadilhagem, por exemplo.

Excrementos de lince-ibérico encontrados na zona de Castelo Branco. Foto: Quercus

Outras evidências da presença da espécie, como excrementos, estão a ser analisadas em laboratório, em busca de um perfil genético que permita a mesma ou outras identificações.

Até ao momento, não foram todavia encontrados sinais de nascimentos nesta zona do país, embora já se tenham sido ouvidas “vocalizações de lince-ibérico durante o período de reprodução”, adiantou o mesmo responsável.

Um longo caminho

Nos últimos anos, o lince-ibérico recuperou do estatuto de felino mais ameaçado do mundo graças aos esforços de vários projectos de reintrodução apoiados por fundos comunitários. Em Portugal, onde esteve em situação de pré-extinção, o lince começou a ser reintroduzido em Dezembro de 2014. Em 2016, nasceu o primeiro animal confirmado na natureza, em território nacional.

Hoje, estima-se que há cerca de 200 linces em território português, a grande maioria dos quais na área que se estende entre os concelhos de Serpa e de Tavira.

Imagem captada por foto-armadilhagem. Foto: Quercus

Todas as áreas de lince em Portugal estão agora a ser consolidadas, ampliadas e interligadas no âmbito do projeto LIFE Lynxconnect, liderado pela CAGPyDS da Junta de Andaluzia, iniciado em setembro de 2020 e que, em Portugal, congrega como parceiros, para além do ICNF, a CIMBAL e a Infraestruturas de Portugal, IP.

Nova autoestrada preocupa

Mas a presença de lince-ibérico na zona de Castelo Branco, e também os sinais recentes de lobo, podem ser ameaçados pela construção prevista da nova autoestrada IC31, entre a A23 e Monfortinho.

Pegada de lince-ibérico, encontrada na região de Castelo Branco. Foto: Quercus

Samuel Infante alertou que a nova via rodoviária, metade da qual será construção nova, deverá atravessar “habitats muito favoráveis para as duas espécies” que ficam assim cortados a meio, tornando mais vulneráveis estes animais a atropelamentos e ao isolamento de populações.

“Desde os estudos iniciais do projecto que a realidade nesta região mudou muito, incluindo a realidade do trânsito, pelo que deveriam voltar a ser estudadas outras opções, incluindo a não construção da nova autoestrada ou apenas o alargamento da via que já existe”, considerou.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.