Combate às exóticas: Idanha-a-Nova está a expulsar esta planta com mãos, máquinas, drones e pranchas de stand up paddle

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A ludevígia-rastejante (Ludwigia peploides), com as suas bonitas flores amarelas, foi trazida das Américas para embelezar jardins e acabou a asfixiar os rios portugueses. Idanha-a-Nova não a quer e declarou-lhe guerra. No terreno há drones, pranchas de stand up paddle, máquinas e mãos que expulsam esta invasora.

Não tardou muito a ser montado um projecto para remover a ludevígia-rastejante da albufeira da Barragem da Toulica, em Zebreira, Idanha-a-Nova (distrito de Castelo Branco).

A planta exótica invasora foi descoberta no Verão de 2020 naquela barragem na bacia hidrográfica do rio Aravil, afluente do Tejo.

Albufeira da Barragem da Toulica. Foto: Pedro Couto

No ano seguinte, estava no terreno o LudVISION, projecto para “desenvolver atividades de prevenção, controlo e contenção ou erradicação de espécies exóticas invasoras aquáticas no concelho de Idanha-a-Nova”, explica o município em comunicado.

“A ideia de fazer este projecto (ou algo parecido) surgiu mal detectei esta nova invasora na Barragem da Toulica enquanto procurava plantas aquáticas raras, no verão de 2020”, explicou à Wilder Jael Palhas,  investigador do Centre for Functional Ecology – Science for People & the Planet (CFE) e dos projectos Espécies Invasoras em Portugal e Charcas de Noé.

Ludevígia-rastejante. Foto: Jael Palhas

Esta detecção da ludevígia-rastejante “é a primeira na Bacia do Tejo e ainda está muito localizada, parecendo ainda viável a erradicação”, acrescentou.

A área central do projecto foi a Barragem da Toulica, onde esta invasora foi detectada. No Outono de 2021 foram feitas as primeiras acções de remoção da planta, incluindo a remoção dos tapetes mais densos com a ajuda de meios mecânicos, raspando a camada superficial de solo contaminado com esta espécie e depositado cuidadosamente em aterro sanitário.

Foto: Jael Palhas

Desde então, têm sido feitas acções de monitorização e controlo, com meios manuais. “A monitorização está a ser feita a pé, ao longo das margens, ou de stand up paddle com remoção manual dos fragmentos e das pequenas plantas encontradas”, explicou Jael Palhas.

Foto: Jael Palhas

O investigador adiantou que a monitorização e as acções de controlo de seguimento vão “continuar durante pelo menos cinco anos, até garantir que não ficou nenhuma planta”.

“Neste momento sabemos que ainda há muitos pontos de Ludwigia na Barragem a precisar de ser removidos. Removemos as manchas grandes, mas ficaram algumas pequeninas que foram detectadas depois. E mesmo nas áreas onde removemos tudo o que estava visível, há sempre pequenos fragmentos que ficam, pedacinhos de caule com raíz que ficaram enterrados e que voltam a crescer.”

Também está a ser feita a monitorização do Rio Aravil a jusante da Toulica. Isso “é importante para confirmar que a invasão ainda está contida na barragem e não passou para jusante. Até agora ainda não foi detectada esta espécie em mais nenhum dos outros pontos visitados além da barragem da Toulica”, acrescentou Jael Palhas.

Controlo feito com a ajuda de uma prancha de stand up paddle. Foto: Jael Palhas

Os trabalhos de erradicação não terminaram e é necessário fazer controlo de seguimento.

“O município agora tem mais alguns meios, adquiridos no âmbito deste projecto, ferramentas, uma prancha de stand up paddle, um drone, uma exposição, folhetos e autocolantes e uma equipa com mais conhecimento e experiência. Mas a dificuldade agora é conseguir mão de obra para as urgentes acções de controlo de seguimento.”

Nesta época do ano, em que as áreas continuam inundadas mas já está algum calor e as plantas já cresceram até à superfície, “é a melhor altura para detectar o que ficou e remover antes que produzam semente”.

Em Idanha-a-Nova estão a ser usados drones para mapear esta espécie que na sua forma aquática é facilmente reconhecível em fotos aéreas.

Utilização de drones. Foto: Jael Palhas

Para já, o mapeamento feito com drones tem-se restringido à monitorização da Barragem, das acções de remoção e à constituição de uma base de dados de imagens que sirva de referência para “treinar” os computadores para classificar novas imagens e identificar a Ludwigia. “Penso que a ferramenta está agora pronta a funcionar com novas imagens de outros sítios para testar a sua eficácia na detecção da Ludwigia.”

Jael Palhas acrescentou que “já foram feitos novos voos para recolha de imagens pelo drone”.

Mas o projecto vai ainda mais longe e aposta também na sensibilização da comunidade local.

Até ao momento foram realizadas acções de educação ambiental nas escolas (Zebreira e Idanha-a-Nova) – para sensibilizar a população para ajudar no mapeamento e na remoção de todas as invasoras aquáticas – e reuniões de Diálogo Rural Participativo com os agricultores (Penha Garcia, Zebreira e Ladoeiro) e respectivas visitas de campo.

Controlo feito com a ajuda de uma prancha de stand up paddle. Foto: Jael Palhas

Para atestar a importância do envolvimento da população no mapeamento da biodiversidade foi organizado um concurso de mapeamento de plantas aquáticas.

“É essencial educar a população para reconhecer estas espécies invasoras e ter consciência da sua perigosidade, quer para a biodiversidade, quer para as actividades humanas. Se conseguirmos que as pessoas deixem de introduzir novas espécies exóticas aquáticas no município e saibam valorizar e utilizar as espécies nativas será uma importante conquista.”

Entretanto foi feita uma proposta de Plano de Acção, “que está agora a ser analisado e discutido, mas que dotará o município de um documento que guie toda a acção em torno desta nova invasora no concelho”.

Tapetes de ludevígia-rastejante. Foto: Jael Palhas

A ludevígia-rastejante é uma das novas invasoras incluídas na lista de espécies que preocupa a União Europeia e cuja erradicação é obrigatória, pelo regulamento 1143/2014.

Jael Palhas lamenta que o sistema de resposta rápida para erradicação ainda não esteja a funcionar em Portugal. “Tudo demora mais e está dependente de outras formas de financiamento.” Segundo o investigador, “a única forma que Portugal está a arranjar para financiar a erradicação de novas invasoras é através destes projectos do Fundo Ambiental e do POSEUR”.

O projecto LudVISION é financiado pelo Ministério do Ambiente, através do Fundo Ambiental, em 84 449,72€.


Saiba mais sobre a ludevígia-rastejante aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.