Arméria-do-sado (Armeria rouyana). Foto: Sergio Chozas

Eleja a Planta do Ano 2023 e ajude a proteger a riqueza botânica das areias do Sado

A Sociedade Portuguesa de Botânica (SPBotânica) alerta para as explorações agrícolas e mudanças na gestão florestal que afectam a vegetação única da região da Comporta, localizada a sul do Estuário do Sado.

As três plantas que disputam o título de Planta do Ano 2023 são todas elas endémicas, ou seja, podem ser encontradas apenas numa área geográfica limitada, não existindo de forma natural em qualquer outro lugar do mundo. No caso da arméria-do-sado (Armeria rouyana) e do marcetão-das-areias (Santolina impressa), duas das espécies a votos, são endémicas do território português e têm uma presença importante na área da Comporta, incluindo a Duna de Montalvo. Já o piorro ou zimbro-galego (Juniperus navicularis) é um endemismo ibérico também muito observado ali, existindo apenas em Portugal e Espanha.

A região da Comporta, localizada a sul do estuário do Sado e incluída no Sistema Nacional de Áreas Classificadas, “caracteriza-se pela predominância de solos arenosos”, descreve a SPBotânica num comunicado sobre a eleição da Planta do Ano, que se realiza online até ao próximo dia 26. “Sobre as areias das dunas consolidadas, longe da praia e dos efeitos diretos dos ventos e da salsugem, desenvolve-se uma original cobertura vegetal, resultante da combinação do substrato, do clima mediterrânico temperado pelo oceano Atlântico, e de várias transformações, tanto à escala geológica como humana”, indica esta associação portuguesa.

A paisagem da Comporta é “maioritariamente composta por pinhais abertos de pinheiro-bravo”, que convivem com “tojais dominados pelo tojo-manso (Stauracanthus genistoides)”, acompanhado de “que traz com ele um “espectacular elenco” de espécies próprias das areias – chamadas de psamófilas – muitas delas endémicas, indica a SPBotânica, que destaca algumas espécies: arméria-do-sado (Armeria rouyana), marcetão-das-areias (Santolina impressa), tomilho-do-mato (Thymus capitellatus) e tojo-do-sado (Ulex australis subsp. welwitschianus). “Também sob o coberto do pinhal, apresentam-se de forma dispersa, nas zonas de areias profundas, os zimbrais de piorro ou zimbro-galego (Juniperus navicularis).” Neste caso, trata-se de um endemismo ibérico.

“Os impactos dos empreendimentos turísticos na região da Comporta são minimamente conhecidos publicamente”, nota ainda a associação, que pretende “dar visibilidade aos impactos gerados pelos campos de horticultura e fruticultura (abacates, tangerinas, e outros) que assolam os seus pinhais litorais”, não só os que já estão construídos, mas também aqueles que estão ainda no papel.

“Também na área de silvicultura, a alteração das práticas de gestão florestal dos pinhais de pinheiro-bravo, no rescaldo da chegada do nemátodo-da-madeira-do-pinheiro (Bursaphelenchus xylophilus) comprometem a conservação das espécies RELAPE (Raras, Endémicas, Localizadas, Ameaçadas ou em Perigo de Extinção) no seu subcoberto e a integridade paisagística de um Sítio de Importância Comunitária.”

A chamada de atenção dos botânicos portugueses para o que se passa nesta área do Litoral Alentejano já tinha sido lançada publicamente em Outubro de 2020 por Miguel Porto, presidente da SPBotânica, na apresentação dos resultados da Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental. “Calcula-se que mais de 1200 hectares de pinhal e matos tenham sido destruídos apenas no período entre 2011 e 2019 para dar lugar a culturas intensivas, incluindo pomares de fruteiras e unidades de produção de hortícolas em áreas de Rede Natura 2000″, salienta a associação.

Inês Sequeira

A minha descoberta do mundo começou nas páginas dos livros. Desde que aprendi a ler, devorava tudo o que eram livros e enciclopédias em casa. Mais tarde, nos jornais, as minhas notícias preferidas eram as que explicavam e enquadravam acontecimentos que de outra forma seriam compreendidos apenas pelos especialistas. E foi com essa ânsia de aprender e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista. Comecei em 1998 na área de Economia do PÚBLICO, onde estive 14 anos a escrever sobre transportes, aviação, energia, entre outros temas. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da agência Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água” e trabalho para um mundo melhor. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.