Faleceu aos 20 anos Aura, um dos primeiros linces a entrar no programa de reprodução em cativeiro

Lince-ibérico. Foto: MITECO

Aura, fêmea de lince-ibérico que vivia no centro de El Acebuche, em Doñana (Andaluzia), teve 14 crias e foi das primeiras a ajudar a recuperar a sua espécie, através da reprodução em cativeiro. É o lince mais longevo conhecido até agora.

Com 20 anos e seis meses de idade, Aura faleceu a 27 de Outubro no centro de reprodução em cativeiro dedicado à espécie (Lynx pardinus) em El Acebuche, em Doñana, Andaluzia.

Foi o terceiro exemplar que ingressou no Programa de Conservação Ex-situ. “Quando Aura nasceu em 2002, a sua espécie estava em estado crítico, menos 100 indivíduos eram contados nessa altura. Após 20 anos, o censo de linces ibéricos selvagens regista mais de 1.300 indivíduos”, salientou, numa nota, o Programa ibérico de Conservação Ex-situ.

Lince-ibérico. Foto: MITECO

Os genes de Aura, o exemplar de lince ibérico mais longevo registado até hoje, foram passando de uma geração para outra, permitindo que mais de 900 exemplares (cativos e selvagens) tivessem sido portadores da sua genética em algum momento.

“Era um animal magnífico”, comentou ao jornal espanhol El País Antonio Rivas, coordenador do centro de El Acebuche.

Aura foi capturada na natureza em Doñana, para integrar o recém-criado programa de reprodução em cativeiro para a espécie. Chegou em 2002 ao Zoo de Jerez de la Frontera, com um mês de vida e 700 gramas de peso, acompanhada de outra lince, Saliega. Esta morreu em Junho de 2019, aos 17 anos. Foi ela o lince-ibérico que fez manchetes em 2005, por ter dado à luz BrisaBrezo e Brecina, os primeiros linces a nascer em cativeiro, a 28 de Março desse mesmo ano.

Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-situ/Arquivo

O lince-ibérico tem tido uma história atribulada. No século XIX a população mundial da espécie estava estimada em cerca de 100.000 animais, distribuídos por Portugal e Espanha. Mas no início do século XXI restavam menos de 100. Então, os dois países juntaram-se para recuperar habitats e reproduzir animais. O programa Ex-Situ de reprodução em cativeiro é uma das peças deste quebra-cabeças conservacionista que ainda hoje não está resolvido.

Esta é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

Este ano, a população de lince-ibérico bateu um novo recorde com um total de 1.365 animais contabilizados no mais recente censo a esta espécie Em Perigo de extinção.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.