Foto: Programa de Conservação Ex-situ do Lince Ibérico

Foi uma infecção viral, panleucopénia felina, que matou Myrtilis

Myrtilis, a fêmea de lince-ibérico que tinha sido encontrada morta a 1 de Março na região de Mértola, foi vítima de uma infecção de natureza viral, conhecida como panleucopénia felina.

 

A detecção da causa da morte fez-se com base numa necrópsia e em exames virológicos realizados no Laboratório de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, indica hoje o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), num comunicado enviado à Wilder.

A panleucopénia felina “é uma doença muito comum entre os gatos domésticos, tendo já sido detectada anteriormente em linces-ibéricos em liberdade”, avança o instituto. No entanto, ressalva, o caso de Myrtilis foi o primeiro de associação directa entre esta doença e a morte de um animal da espécie.

Myrtilis tinha menos de um ano de idade quando foi encontrada morta pela equipa do ICNF responsável pela monitorização dos animais reintroduzidos na região de Mértola, depois de ter sido libertada na natureza a 8 de Fevereiro.

Nascida em Março de 2015 no Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico, em Silves, teria sido já vacinada para patologias como a panleucopénia felina, à semelhança de todos os linces ibéricos que são libertados na natureza.

No entanto, “o ‘stress’ de adaptação poderá em teoria comprometer a imunidade dos animais libertados em zonas de reintrodução”, admite o ICNF, acrescentando que isso torna ainda mais importante que se garanta a vacinação adequada e o seguimento sanitário desta população.

Segundo o instituto, aliás, “as patologias podem desempenhar um papel importante como causas de mortalidade natural de linces ibéricos” – em especial em situações como a de Myrtilis, que tinha sido recentemente libertada na natureza e estava em fase de adaptação.

Myrtilis tinha sido libertada juntamente com a fêmea Mirandilla e o macho Monfrague, dando início ao segundo ano de reintrodução dos linces-ibéricos em Portugal, ligada a um projecto de recuperação da espécie que tem vindo a decorrer também em Espanha.

A causa da morte torna-se agora conhecida poucas semanas depois do anúncio, a 5 de Maio, de que em Portugal nasceu a primeira cria de lince-ibérico em liberdade, em mais de 40 anos, da ninhada de Jacarandá.  Entretanto, confirmou-se o nascimento de mais duas crias, estas da ninhada de Lagunilla.

Hoje viverão em liberdade, no Parque Natural do Vale do Guadiana, 15 linces-ibéricos adultos. Nove deles foram reintroduzidos em 2015 e seis já este ano. Outras duas linces acabaram por morrer: além de Myrtilis, também Kayakweru. Estes animais movimentam-se habitualmente numa zona que tem entre 15.000 e 20.000 hectares, dentro dos 70.000 da área do Parque Natural do Vale do Guadiana.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Saiba como é cuidar dos linces no Vale do Guadiana e quantos linces nascidos em Silves já foram pais na natureza.

Siga a nossa série “Como nasce um lince-ibérico” e conheça os veterinários, video-vigilantes, tratadores e restante equipa do Centro Nacional de Reprodução (CNRLI) em Silves.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.