Foto: P.Lindgren / Wiki Commons

Morte em massa de mais de 600 abutres na Guiné-Bissau

Os números apontam para pelo menos 648 abutres mortos por causas ainda misteriosas, “um dano significativo” para estas aves na Guiné-Bissau, avisam organizações internacionais dedicadas à conservação.

 

Os números de abutres em África têm sofrido uma forte descida nos últimos anos, o que levou a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) a classificar três espécies como Em Perigo de extinção e outras quatro Em Perigo Crítico.

“Com as espécies de abutres à beira da extinção em África, um incidente como este pode representar um golpe fase no estatuto de conservação de várias espécies, num nível nacional e mesmo regional”, avisam a Vulture Conservation Foundation (VCF) e o Grupo Especialista em Abutres da UICN, num comunicado enviado à Wilder.

Um dos problemas é que para já as causas destas mortes estão por esclarecer, notam as duas organizações. No início da semana, quando foram conhecidas as primeiras 200 mortes de abutres, na província de Bafatá, suspeitou-se que as aves tivessem sido envenenadas. Isto porque os casos de envenenamento de abutres são um acontecimento comum em África e a maior ameaça para estas aves no continente.

“Nos anos mais recentes, temos infelizmente enfrentado vários incidentes em que morreram centenas de abutres em redor de carcaças envenenadas, normalmente devido a conflitos entre humanos e predadores, e primeiro pensámos que fosse um desses casos”, explica André Botha, gestor do projecto Vultures for Africa, citado no comunicado.

No entanto, à medida que foram sendo descobertas mais casos semelhantes noutros locais da província de Bafatá, a situação ficou mais confusa. “Esta dispersão complicou o caso, uma vez que normalmente os incidentes de envenenamento são mais concentrados”, acrescentam as duas entidades, que nota que “a causa precisa das mortes está ainda por estabelecer”.

 

Abutre-de-capuz (Necrosyrtes monachus). Foto: peterichman / Wiki Commons

 

A espécie mais afectada parece ser para já o abutre-de-capuz (Necrosyrtes monachus) considerado Em Perigo Crítico de extinção pela UICN. “Este incidente pode representar um dano significativo no seu estatuto na África Ocidental.”

 

Autoridades reagiram depressa

De acordo com a VCF, a resposta das autoridades foi “rápida”, devido ao envolvimento dos ministérios da Saúde Pública, Agricultura e Florestas, do secretário de Estado do Ambiente e do governador de Bafatá.

“Uma equipa de resposta rápida foi enviada para a região e incinerou pelo menos 135 carcaças de abutre no dia 24 de Fevereiro para minimizar o risco de contágio”, relata a ONG. “Mas a situação mostrou ser muito mais complicada do que se pensava à medida que os relatos de abutres mortos chegavam de outros lados, embora nem todos ainda confirmados.”

 

Abutre-de-capuz (Necrosyrtes monachus), em África. Foto: Rod Waddington / Wiki Commons

 

Para já, o gabinete da Organização Mundial de Saúde em Bissau está também envolvido neste processo, uma vez que estas centenas de mortes podem ser uma ameaça à saúde pública. “Foram recolhidas amostras de carcaças de abutres e serão enviadas para o Gana para análises laboratoriais para ajudar a determinar a cauda da morte.”

“As autoridades até agora foram muito responsivas e agiram rapidamente, o que precisa de ser mantido até que a causa da mortalidade seja encontrada”, comentou o responsável máximo da VCF, José Tavares, citado no comunicado.

A ONG e o Grupo Especialista em Abutres da UICN enviaram entretanto uma carta ao Ministério guineense da Agricultura e Florestas em que sublinham a urgência da situação e oferecem apoio.

“A prioridade principal é agora ajudar a identificar as causas e o que poderá estar na origem deste fenómeno que está a causar a morte generalizada dos abutres. Ainda não é claro se este é um caso de envenenamento ou outra coisa qualquer”, avisa também a VCF. “É crucial que as autoridades actuem rapidamente para identificarem a fonte dessa mortalidade, mas também que incinerem todos os abutres mortos para prevenirem mais mortes e contaminação, protegendo assim a saúde pública.”

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.