Milhafre-real. Foto: Vnyyy/Wiki Commons

Projecto LIFE Eurokite vai seguir por GPS mais três milhafres-reais marcados em Portugal

No âmbito deste projecto europeu, em Dezembro foram instalados pequenos emissores em cinco aves desta espécie e ainda num milhafre-preto invernante, tanto em território nacional como na região espanhola da Extremadura.

Todos esses milhafres estavam em centros de recuperação de fauna selvagem de onde foram devolvidos à natureza depois de lhes serem instalados os emissores GPS, permitindo à equipa do LIFE Eurokite seguir estas aves à distância, informa uma nota de imprensa da AMUS – Acción por el Mundo Salvaje. Esta ONG espanhola é parceira do projecto e responsável por esta campanha de marcação de milhafres-reais invernantes.

As três aves marcadas em Portugal estavam internadas no CRASM – Centro de Recuperação de Animais Selvagens de Montejunto, na zona do Cadaval; no CERVAS – Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens, em Gouveia, Serra da Estrela; e ainda no CIARA – Centro de Interpretação Ambiental e Recuperação Animal, em Torre de Moncorvo, distrito de Bragança.

Momento da libertação do milhafre-real tratado no CERVAS. Autoria: Amus/LIFE Eurokite

O objectivo do LIFE Eurokite é marcar mais milhafres-reais com emissores GPS, de forma a investigar quais são as causas de mortalidade destas aves de rapina. “Actualmente, na Europa, mais de 500 milhafres-reais foram já marcados com aparelhos GPS no âmbito deste projecto”, explica a equipa. No total, cerca de 2000 milhafres-reais são hoje seguidos graças a outros programas de investigação e conservação que já estavam em curso e que partilham essa informação com o LIFE Eurokite.

“Este grande número de milhafres-reais com GPS está espalhado por muitos países na Europa, gerando um enorme montante de informação muito útil sobre a biologia da espécie e também sobre as ameaças e eventos de mortalidade”, adianta a equipa do projecto coordenado pela MEGEG – Associação da Europa Central para a Protecção das Aves de Rapina.

Morto por comboio em Montemor-o-Novo

Foi precisamente graças ao seguimento de milhafres-reais por GPS que a equipa detectou a morte de uma destas aves na zona do Alentejo, em Montemor-o-Novo, há duas semanas, explicou à Wilder Alfonso Godino, ligado à ONG espanhola AMUS. Depois de recebido um sinal de alarme vindo de um emissor GPS, a 12 de Dezembro, foi aplicado o protocolo de mortalidade desenhado para estas situações.

Milhafre-real encontrado em Montemor-o-Novo, junto à via férrea. Foto: Amus-LIFE Eurokite

“A patrulha local do SEPNA-GNR foi avisada, deslocando-se ao local para identificar a potencial causa de mortalidade. Depois de uma pequena busca baseada nas últimas localizações recebidas por GPS, o milhafre-real foi encontrado mesmo por baixo do caminho-de-ferro”, descreveu Alfonso Godino. “Uma primeira inspecção da ave, que mostrou uma asa partida e uma grande dano no emissor GPS, em conjunto com a análise das últimos movimentos, parecem indicar que uma colisão com um comboio terá sido a causa da morte.

Mapa com as rotas do milhafre-real que morreu em Montemor-o-Novo, que era seguido desde 2021

“Este foi o primeiro registo de um milhafre-real morto por colisão com um comboio em Portugal, ao longo de três anos de monitorização da mortalidade da espécie pelo LIFE Eurokite, no país”, indica uma nota de imprensa do projecto, que acrescenta que “esta é uma causa crescente de mortalidade noutros países da União Europeia”.

Em Portugal, os milhafres-reais (Milvus milvus) são mais comuns na época de Inverno, quando muitas aves se deslocam para a Península Ibérica vindas dos países onde se reproduzem, na Europa Central. Esta população invernante tem um risco de extinção Pouco Preocupante, segundo a Lista Vermelha das Aves de Portugal.

Bem diferente está a população nidificante de milhafres-reais, aves que se reproduzem em território português, classificada como Criticamente em Perigo. “A sua abundância e distribuição sofreram nas últimas décadas uma redução significativa, em grande parte devido à mortalidade associada ao contínuo uso de venenos (controlo de predadores), mas também devido a mortalidade em linhas elétricas e a alterações nos modelos de produção agropecuários (sobretudo no Alentejo e campina albicastrense)”, detalha o III Atlas das Aves Nidificantes de Portugal


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.