Como identificar penas de aves

Identificar penas de aves é uma boa competência para qualquer naturalista aprender. O biólogo João Rodrigues, que vai ensinar como isso se faz a 17 de Fevereiro numa actividade no Parque Municipal do Cabeço de Montachique, Loures, respondeu às perguntas da Wilder.

A 17 de Fevereiro, entre as 14h00 e as 17h00, a Câmara Municipal de Loures organiza a actividade gratuita “Penas, o tesouro das aves”, na qual qualquer pessoa se pode inscrever. Segundo João Rodrigues, o biólogo que vai orientar a actividade, os “objectivos principais são criar interesse sobre esta área da ornitologia e dar ferramentas aos participantes para, nos seus passeios na natureza, serem capazes de identificar algumas penas”.

“A actividade vai ter uma parte em sala, onde se fará uma introdução ao tema, depois procuraremos penas no exterior e voltamos à sala para as identificar.”

Esta actividade deu o mote para tentarmos saber mais sobre como identificar penas de aves e assim tornar mais entusiasmante um passeio na natureza (ou na cidade). João Rodrigues respondeu às nossas perguntas.

WILDER: Qual a altura do ano mais fácil para encontrarmos penas de aves?

João Rodrigues: a época em que é mais provável encontrar penas de aves selvagens é no final de Agosto, época em que as aves fazem a muda pós-nupcial.

O gaio é uma das espécies cujas penas são mais fáceis de identificar. Foto: Jojo / Wiki Commons

W: Quando encontrarmos uma pena, o que devemos ter em conta para tentar identificar a ave a que pertence?

João Rodrigues: Quando tiver uma pena na mão procure perceber qual a sua localização no corpo da ave (se é uma pena das asas ou da cauda, por exemplo), quais as suas dimensões, que cores e marcas tem e o habitat e a época do ano em que a encontrou.

W: Que tipos de penas podemos encontrar?

João Rodrigues: Teoricamente, pode-se encontrar qualquer tipo de pena. As que se encontram com mais frequência são as penas de voo e das espécies maiores.

W: Que penas poderão ser mais fáceis de identificar?

João Rodrigues: As penas de coruja-das-torres são fáceis, pelo seu padrão de cores e por serem aveludadas, o que é característico das aves de rapina nocturnas (esta superfície aveludada contribui para que o voo seja silencioso). O gaio tem um grupo de penas azuis nas asas, também são fáceis de identificar. O macho de pato-real tem penas pretas encaracoladas na zona da cauda. A perdiz-comum tem penas de cobertura nos flancos também distintas. Nas zonas urbanas, há os periquitos-de-colar, que são verdes, o que torna as suas penas praticamente inconfundíveis. E há situações em que pode não ser imediato chegar à espécie, mas se chega com alguma facilidade ao grupo, por exemplo os pica-paus.

Macho de pato-real. Foto: Commonists/WikiCommons

W: Quais as funções das penas?

João Rodrigues: As penas servem para a ave voar, manter a temperatura, mas também para a impermeabilização, tacto (por exemplo, as penas parecidas com bigodes de gato que os noitibós têm junto ao bico), comunicação sonora (isto é, produção de som como, por exemplo, na corte nupcial das narcejas) ou a comunicação visual (como as penas da cauda dos machos do pavão).

Além disso, as penas ajudam na audição. Nas corujas, as penas da face estão organizadas de forma a formarem uma espécie de antena parabólica, que conduz o som para os ouvidos.

E depois já penas que ajudam a conservar outras penas. Há penas que se desfazem num pó que é espalhado pela ave pelas suas penas, ajudando a conservá-las.

E não esquecer que as penas podem ajudar a transportar água. Os cortiçóis têm penas no ventre com uma estrutura que lhes permite transportar água entre pontos de água e o ninho, para as crias, em zonas desérticas.

Coruja-das-torres. Foto: Carlos Delgado/WikiCommons

W: Há alguma forma para preservarmos as penas que encontrarmos?

João Rodrigues: Sim, preservar as. penas da luz, humidade, poeira e animais que as possam comer. Em relação a estes últimos, pode passar por congelar as penas quando são colhidas, para matar esses animais (ex. escaravelhos) e, depois, ir vigiando para verificar se há infestação. Quanto a apanhar penas na natureza, aconselho as pessoas a usarem o bom senso. Em caso de dúvida, não arrisquem e não levem as penas para casa, tentando identificá-las no campo e tirar fotografias para estudar em casa.


Agora é a sua vez.

Se quiser saber mais sobre as penas das aves, pode inscrever-se na actividade realizada a 17 de Fevereiro através do endereço [email protected], indicando o número de inscritos e um contacto telefónico. A actividade faz parte do programa “Há vida em Montachique… e não só!”.

Recorde as penas que os leitores da Wilder pediram para identificar: pena de poupa, gaio, noitibó-de-nuca-vermelha, peru doméstico e pica-pau-malhado-grande.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.