águia-perdigueira, de frente
Foto: Paco Gómez/Wiki Commons

O que está a acontecer: as águias-de-bonelli tratam dos ninhos e fazem voos de namoro

A Wilder falou com Ana Sá, bióloga na Tapada Nacional de Mafra, que descreve o que fazem estas grandes águias por estes dias, em Novembro.

Desde há muitos anos que a bióloga Ana Sá, que trabalha nos serviços educativos da Tapada Nacional de Mafra, observa o casal de águias-de-bonelli (Aquila fasciata) que ali faz ninho. Este é um dos cerca de 16 casais hoje conhecidos na Grande Lisboa desta espécie classificada Em Perigo de extinção, em Portugal, e que até 2025 estão a ser acompanhados pelo projecto LIFE LxAquila.

Por esta altura estas águias de grande porte, também conhecidas como águias-perdigueiras, estão a dar os primeiros passos para a época mais importante do ano, a época de reprodução. Tratando-se de uma espécie monogâmica, macho e fêmea costumam ficar juntos para a vida, a não ser que aconteça algum percalço.

Na Tapada de Mafra, durante estas semanas “o casal começa a frequentar mais intensamente a área envolvente ao ninho, depositando alguma vegetação no seu interior, embora ainda pontual”, relata Ana Sá. As aves desta espécie costumam ter mais do que um ninho, escolhendo a cada ano qual será aquele onde vão ter as crias.

Uma águia-de-bonelli. Foto: Rita Ferreira/SPEA

Quanto a isso, este casal de águias não é diferente. Existem para já dois ninhos de águia-de-bonelli dentro dos mais de 800 hectares murados da Tapada de Mafra, ambos assentes sobre pinheiros-mansos de grande porte, árvores que “já terão 50 ou 60 anos de idade”, descreve a bióloga. Esta espécie também constrói os seus ninhos em escarpas – como acontece por exemplo no Douro Internacional, junto à fronteira com Espanha – mas a sul do Tejo costuma nidificar em árvores. E é agora, entre Outubro e Novembro, que os casais tratam de reconstruir o ninho que escolheram para a próxima época de reprodução.

Um casal de águias-de-bonelli no seu ninho, numa escarpa das Ilhas Baleares. Foto: Lalo Ventoso, Carlos Pache & Carlota Viada/Wiki Commons

“Vão depositando umas folhinhas, uns raminhos, tanto de pinheiros como de eucaliptos e de carvalhos”, indica Ana Sá, que explica que o ninho está colocado sobre a zona onde as copas dos pinheiros-mansos se bifurcam. E um facto curioso: como ali vão sendo depositados mais restos de vegetação a cada ano que passa, os ninhos acabam por ficar enormes.

Foi o que constataram os técnicos que há cerca de dois anos instalaram por cima de um dos ninhos uma pequena câmara escondida, chamada de ‘nest cam’ (câmara de ninho em português) e que calcularam que aquele terá agora “uma altura de três a quatro metros”. “Todos os trabalhos deste género costumam ser realizados fora da época de reprodução, para não haver efeitos negativos”, nota Ana Sá, até porque é muito importante não haver pessoas a perturbarem as aves quando chegar essa altura do ano.

Voos acrobáticos e nupciais

Mas os sinais de que a fase de acasalamento das águias-de-bonelli se está a aproximar vêem-se também de outra forma. Nos locais onde a espécie nidifica, podemos ter sorte se vigiarmos atentamente o céu, pois é agora que os casais realizam as paradas nupciais.

Uma águia-de-bonelli em voo. Foto: Artemy Voikhansky CCBYSA40

“São voos acrobáticos que duram algumas semanas. As duas águias empurram-se, tocam com as asas uma na outra, fazem círculos e acrobacias”, detalha Ana Sá. “Parece que se estão a atacar uma à outra.” Mas não, na verdade estão em fase de namoro.

Depois de macho e fêmea finalmente acasalarem, dentro de algumas semanas, “começam a reconstruir o ninho mais a sério” e a ficar mais tempo nessa área. “Na altura, já estarão a dormir em árvores vizinhas.” E se tudo correr bem, a postura dos ovos – um ou dois, habitualmente – costuma acontecer em Fevereiro.


Saiba mais.

Saiba o que os investigadores ficaram a saber recentemente sobre a águia-de-bonelli, graças à câmara escondida montada junto ao ninho da Tapada de Mafra, no âmbito do projecto LIFE LxAquila. E recorde também sete curiosidades sobre esta espécie, que foi a Ave do Ano 2018 para Portugal.

E finalmente, prepare-se para começar a seguir online essas filmagens dentro de algumas semanas, aqui, quando a nova época de reprodução já estiver mais adiantada.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.