Trepadeira-azul. Foto: Andreas Eichler/Wiki Comuns

Descubra quais são as aves portuguesas que têm boas notícias

O relatório sobre o Estado das Aves em Portugal, apresentado esta quarta-feira, revela que há quase duas dezenas de espécies cuja situação tem vindo a melhorar, apesar da situação geral preocupante.

Das 64 espécies que são alvo do Censo de Aves Comuns, um programa de monitorização dirigido às aves comuns que se reproduzem em Portugal, 12 apresentaram uma tendência de aumento moderado das populações em 2018.

Foi o caso da pequena fuinha-dos-juncos, cotovia-de-poupa e a pega – três espécies entre as 23 associadas aos meios agrícolas – indica o relatório elaborado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), que compara os dados obtidos nos censos de aves realizados durante os últimos anos.

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Fuinha-dos-juncos. Foto: Zeynel Cebeci/Wiki Commons
Pega. Foto: Tylwyth Eldar/Wiki Commons

Já o pombo-torcaz, o maior dos pombos portugueses, sobressai entre as 20 aves que têm hábitos florestais. Entre 2011 e 2018, a população desta espécie cresceu 285%, indicam os dados analisados no documento.

Foto: Donald Hobern/Wiki Commons

Também houve tendências positivas para a trepadeira-azul – única ave com a capacidade de descer agarrada aos troncos, em Portugal – o vistoso pisco-de-peito-ruivo e a toutinegra-de-barrete. Tanto o pombo-torcaz como a trepadeira-azul, aliás, “também sofreram fortes incrementos no resto da Península Ibérica”, adianta o relatório da SPEA.

Trepadeira-azul. Foto: Andreas Eichler/Wiki Commons

Noutros ambientes, como acontece nas cidades, houve igualmente aves que viram a sua situação melhorar. “O rabirruivo-preto e o pato-real (assim como a rola-turca) tiveram um aumento populacional considerável.” As contagens de rabirruivos-pretos, por exemplo, apontam para um aumento de 70% desta pequena ave insectívora entre 2011 e 2018.

Rabirruivo-preto. Foto: Jerzystrzelecki/WikiCommons
Rola-turca. Foto: Melissa McMasters/Wiki Commons

A tendência populacional da andorinha-dáurica também é moderadamente positiva. Aliás, esta ave e a rola-turca são “duas espécies que nas últimas décadas se expandiram no nosso país”, lembram os autores do relatório.

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Andorinha-dáurica. Foto: Dûrzan/Wiki Commons

Sem demonstrarem tendência para aumento nem declínio das populações, houve 24 aves analisadas no Censo das Aves Comuns consideradas em situação estável, em 2018. Exemplos? Codornizes, peneireiros, carriças, gaios e gralhas-pretas, entre outras.

Gaio. Foto: Jojo/Wiki Commons

Outras 11 aves têm as suas populações com tendência “incerta”, com base nos dados de 2018. São os casos da garça-branca-pequena, alvéola-branca, galinha-de-água, chapim-carvoeiro, milhafre-preto e carraceiro, por exemplo.

Alvéola-branca. Foto: Pixabay

Quanto às 10 espécies de aves nocturnas contadas no âmbito do projecto NOCTUA, entre 2010 e 2019, apenas uma tem tendência para aumentar, e isso de forma moderada: o noitibó-cinzento, também chamado de noitibó-da-Europa, uma ave migradora que vem a Portugal para se reproduzir nos meses mais quentes.

Noitibó-cinzento (Caprimulgus_europaeus). Foto: Jenny Th / Wiki Commons

Cada vez mais cegonhas-brancas, pegas, poupas e grous no Inverno

Já as populações invernantes de cegonha-branca, poupa, pega e estorninho-preto mostram uma tendência populacional “claramente positiva” desde 2005, indicam por sua vez os dados recolhidos no âmbito das Contagens de Aves no Natal e Ano Novo (CANAN).

Destas quatro, a cegonha-branca e a poupa são estivais em Portugal, o que torna o aumento registado “digno de nota”, sublinham os autores do documento. “No caso da cegonha-branca, este resultado coincide com a tendência registada nos censos dirigidos para a espécie, onde o número e proporção de cegonhas registadas no período invernal aumentou.”

Foto: Gilles Pretet/Wiki Commons

Quanto aos grous, objecto de um censo anual nas suas áreas de invernia no Alentejo, desde meados dos anos 1980, também alcançaram “um aumento gradual da abundância ao longo dos últimos anos”, com 12.672 aves contadas em 2018, face às 6.591 que tinham sido registadas em 2014.

Grou. Foto: PeterRohrbeck/Wiki Commons

Ainda assim, a espécie mantém-se Vulnerável no que respeita à conservação, “por apresentar uma distribuição muito localizada, com declínio continuado da qualidade do habitat, em virtude de profundas alterações agrícolas registadas atualmente no Alentejo.”

“Só temos a ganhar com acções de conservação”

Por outro lado, algumas espécies raras ou ameaçadas aumentaram em Portugal desde há poucos anos, “graças em grande parte a projetos de conservação dedicados”, sublinha a SPEA em comunicado.

Como o priolo, ave que apenas existe na ilha de São Miguel, Açores, e que há duas décadas “era uma das aves mais ameaçadas da Europa”, que “conta agora com uma população estável em torno dos 1000 indivíduos”.

Priolo. Foto: mark Putney/Wiki Commons

Outro exemplo são as cagarras da ilha da Berlenga: a população “tem vindo a aumentar graças aos esforços para restaurar o ecossistema natural da ilha e acções direccionadas, como a construção de ninhos artificiais”.

“O investimento na conservação da natureza produz resultados, e não é só ao nível das espécies que são salvas”, salienta Domingos Leitão, director-executivo da SPEA. “Proteger e recuperar a imensa riqueza natural do nosso país é contribuir para a economia local e promover atividades sustentáveis, é criar empregos e novas áreas de negócio. Só temos a ganhar com isso.”

No total, o novo relatório apresentado esta quarta-feira divulga dados recolhidos num total de 18 censos e programas de monitorização, que contaram com a participação de centenas de voluntários ao longo dos últimos 15 anos.


Saiba mais.

Conheça nove espécies que estão em declínio acentuado, de acordo com o relatório sobre o Estado das Aves em Portugal.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.