Como cuidar das plantas depois do verão?

Foto: Sanna Jågas/Pixabay

Na série “Abra espaço para a natureza”, Carine Azevedo responde às dúvidas que temos quando pensamos em tornar um espaço mais amigo do mundo natural.

Com o verão a terminar, está na hora de começar a proteger as plantas para o inverno. A chegada do outono gera mudanças no ambiente, os dias ficam mais curtos e as temperaturas começam a baixar, sendo por isso fundamental fazer pequenos ajustes aos cuidados com as plantas para que estas se adaptem progressivamente às novas condições e assim sofrerem menos danos.

Água e luz 

Uma das primeiras recomendações é a redução dos tempos e períodos de rega. De uma maneira geral, as temperaturas começam a descer no final do verão, levando a que as plantas necessitem de menos água. A humidade em excesso pode levar à formação de fungos e, consequentemente, ao apodrecimento das raízes. 

É importante ter em consideração o facto de nem todas as plantas terem as mesmas necessidades de rega, sendo por isso essencial estar atento à humidade no solo de cada uma das plantas em particular, devendo apenas regar-se quando se verificar que o solo está seco.

Outra dica importante, sobretudo para as plantas de interior, é verificar a luminosidade disponível, uma vez que com a mudança das estações a posição do sol também muda.

Um local perfeito para determinada planta no verão poderá deixar de o ser nas estações seguintes. Embora as plantas nesta altura diminuam a sua atividade fotossintética e, consequentemente, o gasto de energia para se protegerem do frio que virá, as plantas continuam a preferir locais com maior disponibilidade de luz solar possível.

Limpeza, nutrição e arejamento

A limpeza também é muito importante nesta época. Retirar raminhos secos, folhas e flores mortas ajuda a manter as plantas saudáveis. A manutenção de matéria morta sobre as plantas pode favorecer o aparecimento de pragas e de doenças. 

A remoção das partes mortas também favorece a entrada de luz para a parte mais interna das plantas. 

Por outro lado, em situações em que o solo está mais compacto, o seu arejamento favorece as plantas, uma vez que a infiltração da água será mais facilitada, evitando-se o desenvolvimento de fungos à superfície e o apodrecimento das raízes. É muito comum, sobretudo nas plantas de interior, a formação de fungos à superfície do solo. Embora alguns até possam ser benéficos para as plantas, muitos outros podem provocar danos nas plantas.

A fertilização é outra tarefa fundamental nessa fase. A maioria das plantas começa agora a entrar no período de dormência, que se estende até ao início da primavera, reduzindo de forma significativa o seu crescimento, pelo que a necessidade de azoto não é significativa. Por outro lado, nutrientes como o fósforo e o potássio são essenciais nesta fase, para o fortalecimento das raízes e consequentemente para manter as plantas resistentes e prontas para as condições mais adversas que se aproximam.

Consequentemente, aproveitar as folhas que caem das árvores para fazer mulching – cobertura de solo com folhas secas – pode ser uma boa solução natural para aumentar o teor de matéria orgânica do solo, evitar o aparecimento de pragas nocivas e atrair animais benéficos para as plantas.

Preparar as plantações de outono

E se quiser fazer alterações no seu jardim, nomeadamente plantações e transplantações, esta é a altura ideal para começar a planear, para que com a chegada do outono tenha todas as condições para realizar as tarefas necessárias. 

O outono é, sem dúvida, uma boa altura para plantar e transplantar árvores e arbustos ornamentais e florestais, como é o caso do pinheiro-bravo (Pinus pinaster), do sobreiro (Quercus suber), dos carvalhos (Quercus spp.), do medronheiro (Arbutus unedo), da murta (Myrtus communis), do pilriteiro (Crataegus monogyna) e muitas outras espécies nativas, uma vez que as temperaturas são mais amenas e a disponibilidade de humidade do solo e no ar são maiores. Estas condições são favoráveis para que as plantas consigam formar novas raízes e adaptar-se às novas condições, ainda antes da chegada do frio intenso do inverno e para que tenham maior probabilidade de sobrevivência durante o verão.

Muitas árvores de fruto devem ser plantadas nesta época – como acontece com as macieiras, as pereiras e as cerejeiras – e também são inúmeras as plantas herbáceas que se podem plantar ou semear durante este período e até ao final do outono, como é o caso das prímulas (Primula acaulis), dos amores-perfeitos (Viola tricolor), das boninas (Bellis perennis), dos miosótis (Myosotis spp.), das papoilas (Papaver rhoeas), das begónias (Begonia spp.), dos cravos (Dianthus spp.) e de algumas plantas aromáticas, como a salsa, a sálvia, entre outras. E se quer ter um jardim colorido e diversificado na primavera, esta é também a estação perfeita para iniciar a plantação de bolbos – tulipas, crocos, narcisos, lírios, junquilhos, entre outros. 

Plantação de árvores e arbustos

No caso particular das árvores e dos arbustos é fundamental ter em consideração alguns aspetos, antes mesmo de pensar em realizar as plantações:

  • É muito importante conhecer bem as condições do seu jardim, nomeadamente o tipo de solo, a disponibilidade de luz e de água, a exposição a ventos, entre outros, para assim escolher as espécies que melhor se adequem, sem correr o risco de escolher plantas mais ou menos exigentes face às condições existentes. 
  • Avaliar o espaço disponível para as plantas é também muito relevante, uma vez que nem todas as plantas crescem e ocupam a mesma área. O tamanho, quer em altura como em diâmetro de copa das árvores e dos arbustos, é variável e devem ser considerados ao escolher uma determinada espécie, face ao espaço disponível, para que as plantas a instalar tenham condições para crescer, não ficando confinadas e/ou a competir com outras plantas por falta de espaço. Esta informação permite ainda prever a sombra que a planta possa fazer e definir a distância a que deve ser mantida em relação a uma habitação, a uma estrada, ou a um muro.
  • Outro aspeto relevante prende-se com a escolha das espécies, tendo em conta as cores das suas folhas e das suas flores, para que a sua conjugação no jardim permita o estabelecimento de um ambiente harmonioso e equilibrado.

Depois de analisados todos estes aspetos só tem de esperar pelo outono. Esta é uma época favorável para realizar estas operações, mas é preciso verificar se as condições meteorológicas – nomeadamente temperatura e humidade – cumprem os requisitos necessários para que as plantas rapidamente se adaptem ao local e garantir assim o sucesso das operações.

Na série “Abra espaço para a natureza” encontrará mais informação que ajudará na escolha das espécies e nos cuidados a ter com as suas plantas. E se explorar a série “O que procurar: espécies botânicas”, irá encontrará um vasto leque de espécies nativas que se poderão adequar às diferentes condições do seu jardim.

Aproveite para partilhar as fotos do seu jardim nas redes sociais com #jardimtemático e no Instagram, comigo (@biodiversityinportuguese) e com a Wilder (@wilder_mag).


Ao longo de mais de dois anos Carine Azevedo deu-nos a conhecer, todas as semanas, novas plantas para descobrirmos em Portugal. Encontre aqui todos os artigos desta autora.

Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas. 

Para acções de consultoria, pode contactá-la no email [email protected]. E pode segui-la também no Instagram.