Rosmaninho (Lavandula stoechas). Foto: Jean-Pol Grandmont/WikiCommons

Como preparar o jardim para a chegada da Primavera?

Na série “Abra espaço para a natureza”, Carine Azevedo responde às dúvidas que temos quando pensamos em tornar um espaço mais amigo do mundo natural.

À medida que nos despedimos dos dias frios e cinzentos do inverno e damos as boas-vindas à primavera, é tempo de despertar os nossos jardins para receberem a explosão de vida e de cor que caracteriza esta estação. Preparar as plantas para a nova estação, além de assegurar um espetáculo de cores, também estabelece as bases para um jardim cuidado e saudável.

Rosmaninho (Lavandula stoechas). Foto: Jean-Pol Grandmont/WikiCommons

Descubra algumas práticas essenciais e detalhes que permitirão revitalizar os nossos espaços verdes para acolher o despertar da natureza com o regresso do sol e das temperaturas amenas.

Limpeza e manutenção do jardim 

A limpeza do jardim é um passo fundamental na preparação para a primavera. Esta prática vai além de uma preocupação puramente estética. Trata-se de uma prática fundamental para garantir a saúde e vitalidade de um espaço verde.

À medida que nos aproximamos da primavera, dedicar tempo à remoção de folhas secas caídas no solo, ramos mortos e partidos e outros detritos acumulados no inverno, é fundamental para melhorar a aparência geral do jardim e embelezar o ambiente. Mas também desempenha um papel vital na prevenção de problemas futuros, nomeadamente potenciais abrigos para pragas e doenças que comprometem a saúde das plantas.

É importante inspecionar cuidadosamente cada canto do jardim, incluindo as áreas menos visíveis, como a base dos arbustos e de outras plantas mais densas, onde a acumulação de detritos pode ser maior, para que o próprio solo e as plantas recebam a luz solar necessária durante a primavera. 

Plantas expostas à luz adequada têm maior probabilidade de prosperar, produzir flores e frutos de maneira saudável. Além disso, a eliminação de excessos de resíduos ou de folhagem, por exemplo, contribui para a circulação de ar, outro fator crucial para o bem-estar das plantas.

Adubação e nutrição

Com a chegada da primavera, as plantas entram num período de crescimento ativo, marcado pelo despertar de novos rebentos e flores. Nesta etapa, é ainda mais essencial fornecer-lhes os nutrientes de forma equilibrada para garantir um desenvolvimento saudável e robusto.

A adubação é a base essencial deste cuidado primaveril e tudo começa com a escolha do adubo adequado para as diferentes necessidades das plantas. A ciência por trás da adubação revela como é que cada nutriente influencia o crescimento foliar, o desenvolvimento de raízes, a resistência a doenças e a produção de flores e frutos. 

Cosmos. Foto: Prenn/WikiCommons

Compreender as necessidades específicas de cada uma das plantas permitirá uma aplicação mais estratégica dos adubos, garantindo que recebam os nutrientes necessários às condições particulares em que se encontram.

Além dos adubos comerciais, existem outras soluções mais naturais, como o estrume e o composto, por exemplo, que além de fornecerem nutrientes, também melhoram a estrutura do solo, promovendo a saúde das raízes e a absorção eficiente de nutrientes.

Prevenir pragas e doenças

Na primavera, as pragas e doenças podem tornar-se mais proeminentes. Antes que as temperaturas subam, é muito importante inspecionar cuidadosamente as plantas à procura de sinais de pragas, como ovos ou lesões nas folhas. 

Medidas preventivas, como a remoção das partes doentes ou visivelmente atacadas e a aplicação de óleos essenciais para manter o ambiente limpo em redor das plantas, são indispensáveis para reduzir o risco de doenças e o ataque de pragas. O uso de repelentes naturais – resultantes da mistura de extratos de plantas, como por exemplo, alho, pimenta com água e sabão – são eficazes contra insetos e fungos indesejados.

Além disso, também se pode levar em consideração o uso de plantas que possuem propriedades que repelem insetos indesejados como:

  • o manjericão (Ocimum basilicum), 
  • o alecrim (Salvia rosmarinus), 
  • as lavandas (Lavandulas spp.), 
  • a erva-príncipe (Cymbopogon citratus), 
  • a hortelã-pimenta (Mentha x piperita), 
  • os tagetes (Tagetes spp.), 
  • as calêndulas (Calendula officinalis), 
  • os gerânios (Pelargonium spp.), 
  • os alhos (Allium spp.), 
  • os tomilhos (Thymus spp.),
  • a cidreira (Melissa officinalis).

Outras plantas podem cooperar para fomentar a presença de predadores naturais – como as joaninhas, os louva-a-deus, as moscas, as libélulas e os pássaros – que são aliados valiosos na batalha contra pragas e contribuem para estimular a biodiversidade no jardim, colaborando para a formação de um ecossistema equilibrado. 

Alguns exemplos de plantas que atraem predadores naturais são: 

  • o coentro (Coriandrum sativum), 
  • o funcho (Foeniculum vulgare), 
  • o endro (Anethum graveolens), 
  • as violetas (Viola spp.), 
  • a angélica (Angelica archangelica), 
  • a calêndula (Calendula officinalis), 
  • a zínia (Zinnia elegans), 
  • as verbenas (Verbena spp.), 
  • o pilriteiro (Crataegus monogyna), 
  • as urzes (Erica spp.), 
  • a torga (Calluna vulgaris),
  • a esteva (Cistus ladanifer),
  • a estevinha (Cistus salviifolius), 
  • o tomilho (Thymus spp.), 
  • o medronheiro (Arbutus unedo).

A vigilância constante é fundamental, devendo por isso realizar-se inspeções regulares para identificar rapidamente qualquer sinal de infestação. A intervenção precoce evita a propagação de pragas e preserva a saúde geral do jardim.

Como escolher as plantas ideais para uma primavera em flor

A primavera também é sinónimo de plantações. Celebre a estação com a plantação de espécies que florescem nesta época do ano. Além de adicionarem cor e aromas ao jardim, as flores atraem polinizadores essenciais, contribuindo para a biodiversidade do espaço verde.

Foto: Mariakray/Pixabay

No entanto, antes de se deixar encantar pelas cores e formas das flores, inicie um processo de planeamento meticuloso. É importante conhecer as condições específicas do jardim, desde a quantidade de luz solar disponível até a composição do solo, assim como as necessidades individuais de cada planta. Plante-as estrategicamente no jardim para que desempenhem o seu papel de forma exuberante.

Alguns exemplos de plantas que florescem na primavera são:

  • a bonina (Bellis perennis), 
  • a violeta-brava (Viola riviniana), 
  • a relva-do-olimpo (Armeria maritima), 
  • os cravos-das-areias (Armeria pungens), 
  • a flor-de-mel (Lobularia maritima), 
  • a cravina-brava (Dianthus lusitanus), 
  • o rosmaninho (Lavandula stoechas), 
  • a alfazema-de-folha-recortada (Lavandula multifida), 
  • as peónias (Paeonia spp.), 
  • o alecrim (Salvia rosmarinus), 
  • as prímulas (Primula spp.), 
  • as petúnias (Petunia x hybrida), 
  • as begónias (Begonia spp.), 
  • as zínias (Zinnia elegans), 
  • os cosmos (Cosmos bipinnatus), 
  • a papoila (Papaver rhoeas)
  • as spireia (Spiraea spp.),
  • o jasmim (Jasminum spp.). 

Também existem muitas plantas bolbosas que podem ajudar na paleta de cores exuberantes. No entanto, estas deveriam ter sido plantadas no outono (fica a dica para o próximo ano):

  • o muscari (Muscaris neglectum), 
  • o açafrão-da-primavera (Crocus spp.), 
  • a campainha-amarela (Narcissus bulbocodium)
  • os narcisos (Narcissus spp.), 
  • os jacintos (Hyacinthoides spp.), 
  • as tulipas (Tulipa spp.)
  • a Cila (Scilla monophyllos)

Regar com cuidado: hidratação sábia para um crescimento sadio

Ajustar os padrões de rega durante a primavera é fundamental. Com o aumento da temperatura, muitas plantas exigem mais água.

É muito importante considerar as necessidades individuais de cada planta e monitorizar a drenagem do solo, para evitar a acumulação ou a falta de água. Também deve ter em conta regar preferencialmente pela manhã ou à noite, para reduzir a evaporação e certificar-se de que direciona a água diretamente às raízes.

Deve-se evitar regar as plantas por cima. Molhar as folhas com frequência, especialmente durante a noite, pode criar um ambiente propício ao desenvolvimento de doenças fúngicas, como o oídio e o míldio. Por outro lado, em dias ensolarados, a água nas folhas pode atuar como uma lupa, concentrando a luz do sol e causando queimaduras. Além disso, molhar as folhas em excesso, pode resultar num desperdício de água, pois nem toda a água atingirá as raízes onde é mais necessária.

As flores também não devem ser molhadas. Algumas flores são mais sensíveis do que outras, podendo ficar danificadas, especialmente se forem regadas durante as horas mais quentes do dia, quando a luz do sol é intensa. Por outro lado, se forem regadas à noite pode aumentar o risco de doenças, devido à humidade prolongada nas pétalas e criar um ambiente propício para o desenvolvimento de fungos.

Construir um jardim sustentável

Se está a pensar em construir um jardim, a primavera é a época perfeita para o fazer. 

Foto: onehundredseventyfive/Pixabay

No entanto, antes de começar, deve planear bem o design do jardim, tendo em conta o espaço disponível, de forma a aproveitar ao máximo a exposição solar, garantindo que cada planta recebe a quantidade certa de luz e que tem o espaço necessário para crescer de forma saudável. 

Escolha plantas que floresçam na primavera e outras que embelezem o jardim nas restantes estações do ano.

É fundamental lembrar-nos de que os jardins são mais do que meros espaços decorativos. São ecossistemas vibrantes que podemos moldar, contribuindo para um ciclo de vida mais amplo, onde plantas e os polinizadores prosperam em harmonia. 

Além disso, devem ser vistos como locais de estar que conectam o ser humano com a natureza.

Só desta forma é que transformamos os nossos jardins em verdadeiros refúgios multifuncionais, onde a beleza, a sustentabilidade e o bem-estar se entrelaçam, proporcionando um equilíbrio único entre a natureza e as necessidades humanas.

Que a chegada da primavera seja celebrada em cada planta e em cada flor dos nossos jardins!

Na série “Abra espaço para a natureza” encontrará mais informação que ajudará na escolha das espécies e nos cuidados a ter com as suas plantas. E se explorar a série “O que procurar: espécies botânicas”, irá encontrar um vasto leque de espécies nativas que se poderão adequar às diferentes condições do seu jardim.

Aproveite para partilhar as fotos do seu jardim nas redes sociais com #jardimtemático e no Instagram, comigo (@biodiversityinportuguese) e com a Wilder (@wilder_mag).


Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas. 

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