Foto: Joana Bourgard

Gosta de plantas? Saiba que espécies escolher para ajudar os insectos polinizadores

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Os polinizadores são o alvo da nova rede nacional polli.NET, lançada a 5 de Junho. Patrícia Garcia-Pereira, investigadora do c3Ec – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais e coordenadora do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, explica-nos como podemos auxiliar este grupo tão importante para o ambiente.

Qualquer um de nós gosta de estar rodeado de plantas bonitas, com flores grandes e formas diversas. Para que as nossas plantas em vasos, varandas, quintais, jardins ou terrenos possam também servir para ajudar os insetos polinizadores, é essencial que sejam nativas.

Este é o ponto principal que é urgente alterar nos nossos comportamentos e consequentemente no mercado de floristas e hortos do país. Isto porque a nossa fauna de polinizadores está especialmente adaptada e depende das plantas silvestres.

Infelizmente, são poucas as espécies de plantas silvestres disponíveis para venda em semente, e muito especialmente em vasos. Nas floristas encontramos plantas exóticas, variedades produzidas noutros locais do mundo, algumas delas com comportamento invasor em Portugal, que têm pouco valor ecológico para albergar uma grande diversidade de insetos polinizadores.

É importante apoiar a produção de plantas nativas ou silvestres para que nos supermercados, mercados locais, floristas, estejam disponíveis para as pessoas os elementos certos para fazerem os seus espaços verdes e que possam funcionar como fonte de néctar e pólen para os insetos.

Alfazema ou rosmaninho (Lavandula stoechas). Foto: Bj.schoenmakers/Wiki Commons

Estou a falar por exemplo da diversidade de plantas aromáticas, como alecrim, alfazemas, tomilhos, mentas, que são excelentes plantas amigas dos polinizadores. Podemos juntar um pé de arruda (das poucas espécies que se vendem em floristas) que com o seu forte cheiro afasta os mosquitos, mas é capaz de atrair a bonita borboleta cauda-de-andorinha a quilómetros de distância e em pleno centro das cidades.

A diversidade de plantas perenes herbáceas, arbustivas ou trepadeiras da nossa flora que poderão facilmente integrar os nossos espaços verdes é imensa. Gostaria muito que estivesse disponível para as pessoas um pezinho de rosa-albardeira, roselha e outras cistáceas, chupa-mel, urzes e tojos, jasmim e madressilvas, para enumerar algumas.

Rosa-albardeira (Paeonia broteri). Foto: Luís Nunes Alberto/Wiki Commons
Chupa-mel (Echium pantagineum), também conhecida por língua-de-vaca ou soagem. Foto: Alvesgaspar/Wiki Commons

Podemos considerar dois aspetos muito importantes ao escolher a composição florística do nosso jardim: 

  • Representatividade das principais famílias de plantas – cenouras, salsas, couves, trevos, boragináceas, trepadeiras, etc. que permitem uma panóplia de cores e formas de flores que irão atrair uma maior diversidade de polinizadores;
  • Garantir flores todo o ano – é preciso ter em atenção a época de floração das espécies do nosso jardim. É extremamente importante disponibilizar alimento todo o ano; por isso, precisamos de conjugar espécies que estejam em flor na Primavera, com outras que florescem no Verão, Outono e Inverno.    
Erva-das-sete-sangrias (Glandora prostrata), que floresce no Inverno e Primavera. Foto: David/WikiCommons

Para além da composição de flores, outro aspeto fundamental, agora mais dirigido para quem tem quintais e terrenos, é o modelo de gestão. O que temos que fazer (ou deixar de fazer) para maximizar a diversidade de polinizadores. Um ponto básico é deixar de utilizar qualquer produto químico.

Outro aspeto importante é deixar sempre uma parcela, um cantinho “ao natural”, sem qualquer intervenção. Isto vai permitir que se estabeleça naturalmente a vegetação potencial para o espaço em questão e consequentemente a fauna associada. Não há ervas daninhas. Todas são utilizadas pelos insetos, muito deles polinizadores, em alguma fase da sua vida ou época do ano. 


Saiba mais.

Conheça os maiores polinizadores de Portugal. E descubra aqui o que é a polli.NET e o que esta rede vai fazer pelos polinizadores de Portugal.


Como pode também ajudar:

Fotografe e submeta os seus registos de insectos – como borboletas, abelhas, escaravelhos, aranhas, abelhões, joaninhas, percevejos, moscas, vespas, formigas e cigarrinhas – no Polinizadores de Portugal, projecto lançado há um ano. Saiba mais aqui.

“Que Espécie é Esta”: explore os grupos de espécies e as centenas de registos de outros leitores da Wilder, uma base de dados que está a crescer desde 2017, e aprenda a identificar os polinizadores que encontrar.

Recorde ainda outras sugestões para ajudar insectos polinizadores feitas por Dave Goulson, autor e investigador britânico na área da entomologia.