Urze-roxa (Erica cinerea). Foto: Ligurian Vascular Flora/WikiCommons

Como ter um jardim resiliente? Opte por um xerojardim

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Na série “Abra espaço para a natureza”, Carine Azevedo responde às dúvidas que temos quando pensamos em tornar um espaço mais amigo do mundo natural.

As alterações climáticas são cada vez mais evidentes e fazem-se sentir em todo o mundo, prevendo-se que os seus efeitos se tornem mais frequentes e intensos num futuro próximo.

É por isso fundamental pensar em soluções urgentes para minimizar os seus impactos no ambiente e garantir um futuro mais saudável para o planeta. E os jardins podem ser um bom ponto de partida.

Optar por espécies nativas, mais adaptadas à secura e resistentes ao calor, por técnicas de irrigação mais eficientes, como por exemplo, rega gota-a-gota, ou recolher água da chuva e compostar resíduos orgânicos, são algumas dicas que ajudam a ter um jardim “amigo” do ambiente e resistente às mudanças climáticas.

Os xerojardins são uma boa solução. Mas o que é um xerojardim?

O que é um xerojardim?

O conceito de xerojardim não é novo. Esta prática começou a desenvolver-se nos Estados Unidos na década de 80 do século XX, como resposta aos problemas de seca que já se faziam sentir em alguns estados da América. 

Um xerojardim contempla a utilização de espécies vegetais pouco exigentes em água e bem-adaptadas às condições edafo-climáticas do local.

Estas plantas, muito resistentes e pouco exigentes em água, são conhecidas como plantas xerófitas.

Um xerojardim prevê a diminuição dos custos e dos trabalhos de manutenção e uma preocupação ecológica com o incremento da biodiversidade e a diminuição da poluição, uma vez que nestes jardins também se pretende a redução do uso de pesticidas e de combustíveis fósseis.

As plantas devem ser escolhidas de forma adequada a cada local, optando-se preferencialmente por espécies nativas, embora também se possam escolher outras plantas com necessidades ambientais semelhantes.

Plantas xerófitas = plantas pouco exigentes em água

As plantas xerófitas desenvolveram mecanismos e adaptações que lhes permitem armazenar e perder o mínimo de água. Na generalidade, estas plantas possuem poucas folhas ou folhas pequenas, espessas, cerosas e rijas, embora algumas também possam desenvolver picos ou espinhos e caules suculentos.

Sejam plantas nativas ou exóticas, cactos, suculentas ou bolbosas, árvores, arbustos ou trepadeiras, é fácil encontrar espécies com estas características em qualquer grupo de vegetais.

Plantas xerófitas nativas: 

Na nossa flora nativa existem inúmeras espécies adaptadas a condições de secura e que podem ser facilmente utilizadas nos nossos jardins, tais como:

Árvores: 

Arbustos: 

Herbáceas:

  • Cravina-brava (Dianthus lusitanus)
  • Tomilhos (Thymus spp.)
  • Armerias (Armeria spp.)
  • Santolinas (Santolina spp.) 
  • Festucas (Festuca spp.)
  • Carex (Carex spp.)
  • Milefólio (Achillea millefolium)
  • Morganheira-das-praias (Euphorbia paralias)
  • Absínto (Artemisia absinthium
  • Salvia (Salvia argentea)

Trepadeiras:

Bolbosas:

As plantas bolbosas embora se mantenham “adormecidas” durante a época desfavorável para o seu desenvolvimento, dando a ideia de que desapareceram, voltam a surgir todos os anos, com belas flores, mesmo nos locais mais secos e pobres, em condições desfavoráveis para a maioria das outras plantas.

Plantas xerófitas exóticas

De entre as espécies exóticas, os cactos e as suculentas são sempre boas alternativas, podendo optar-se pela agave-dragão (Agave attenuata), a agave-do-caribe (Agave angustifolia), as echeverias (Echeveria spp.), a lança-de-são-jorge (Sansevieria cylindrica), a espada-de-são-jorge (Dracaena trifasciata), a onze-horas (Portulaca grandiflora), o aloé (Aloe vera), o aloé-candelabro (Aloe arborescens), o assento-da-sogra (Echinocactus grusonii), entre muitas outras. 

O carvalho-sedoso (Grevillea robusta), a paineira (Ceiba speciosa), o limpa-garrafas (Callistemon citrinus), a romanzeira (Punica granatum), a alfazema (Lavandula angustifolia), a yucca (Yucca aloifolia), o fórmio (Phormium tenax), a cica (Cycas revoluta), a margarida-do-cabo (Dimorphotheca ecklonis), a sardinheira (Pelargonium sp.), a Phlomis fruticosa, as palmeiras e algumas trepadeiras, como a glicínia (Wisteria sinensis),  a buganvília (Bougainvillea spp.), a unha-gato (Ficus pumila) e o maracujá (Passiflora caerulea), também poderão ser alternativas exóticas para complementar o seu xerojardim.

Jardim amigo do ambiente

Embora as plantas indicadas para um xerojardim sejam resistentes à seca, isso não significa que não precisem de água. 

A água da chuva é sem dúvida a melhor opção. A sua temperatura é perfeita para as plantas. Além disso, possui uma baixa concentração de sais e de minerais, como o cloro, uma substância que saliniza os solos e desequilibra o desenvolvimento das plantas. Por outro lado, a chuva, além de regar, ajuda a limpar as plantas.

Além disso, é importante investir em técnicas de rega eficientes, como a gota-a-gota. Este tipo de rega é uma solução de rega localizada muito eficaz, que permite fornecer água nas quantidades certas e com a regularidade adequada, quase sem desperdícios, garantindo que só se consome a água estritamente necessária.

O aproveitamento da água da chuva é uma excelente forma de poupar e contribuir para a sustentabilidade. A recuperação de água em reservatórios (baldes, garrafões, bidons, etc.) é uma forma simples de aproveitar a água da chuva para regar. 

Outra estratégia importante para criar um jardim sustentável é investir na compostagem dos resíduos orgânicos. Além de reduzir a quantidade de resíduos nos aterros, está a transformar os restos de vegetais crus e de frutas, as flores e folhas secas, as borras de café, restos de pão, etc. num adubo natural que favorecerá o desenvolvimento das plantas, quando misturado com o solo.

Como já mencionei em textos anteriores, as plantas nativas são uma escolha inteligente para um jardim amigo do ambiente, uma vez que estas espécies de plantas, por ocorrerem naturalmente numa determinada área ou ecossistema, são mais resistentes e adaptadas às condições edafo-climáticas e biogeográficas desse local.

As plantas nativas também são fundamentais para a preservação da biodiversidade. Além de atraírem os polinizadores que ajudam a manter o equilíbrio do ecossistema, a sua combinação em jardins transforma esses espaços em excelentes locais de abrigo, nidificação, proteção e alimento para a vida selvagem, podendo atrair inúmeras espécies de aves, insetos e outros animais, sendo por isso, sempre que possível a melhor opção para a concepção de um xerojardim. 

É cada vez mais urgente que os jardins sejam projetados para resistir às condições climáticas extremas, tornando-os mais resilientes e adaptados às mudanças climáticas que são cada vez mais frequentes.

Se ficou motivado e está consciente da importância da preservação do ambiente, este pode ser o ponto de partida para transformar o seu espaço verde num jardim mais sustentável e amigo do ambiente.

Na série “Abra espaço para a natureza” encontrará mais alguma informação que ajudará na escolha das espécies e nos cuidados a ter com as suas plantas. E se explorar a série “O que procurar: espécies botânicas”, irá encontrará um vasto leque de espécies nativas que se poderão adequar às diferentes condições do seu jardim.

Aproveite para partilhar as fotos do seu jardim nas redes sociais com #jardimtemático e no Instagram, comigo (@biodiversityinportuguese) e com a Wilder (@wilder_mag).


Ao longo de mais de dois anos Carine Azevedo deu-nos a conhecer, todas as semanas, novas plantas para descobrirmos em Portugal. Encontre aqui todos os artigos desta autora.

Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas. 

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